“Eu consegui!” — é assim que Bruna Arantes resume sua trajetória até se tornar operadora de um centro de operação do sistema elétrico. Quem a vê atuando entre telas, analisando alarmes e enviando comandos pelo sistema SCADA, dificilmente imagina o caminho de superação, força e aprendizado que a trouxe até ali.
Bruna é mulher, mãe e profissional de um dos ambientes mais exigentes e críticos do setor elétrico. A operação em tempo real é uma atividade estratégica e essencial para o funcionamento de um país — um universo em que decisões precisam ser tomadas em segundos, e qualquer falha pode gerar consequências significativas.
Um interesse que veio de casa
Desde pequena, Bruna demonstrava curiosidade pelo trabalho do pai, que atuava em obras e serviços ligados ao sistema elétrico. “Lembro de perguntar por que não existia um capacete do meu tamanho”, conta. Inspirada por ele, decidiu cursar Eletrotécnica — um passo incomum para mulheres à época.
Durante o estágio e os primeiros anos de carreira, Bruna vivenciou a rotina de campo em equipes formadas majoritariamente por homens. Foi encarregada de turma, realizou serviços de manutenção pesada e aprendeu, na prática, a lidar com os desafios técnicos e físicos da profissão. “Soldei cabos, instalei disjuntores, subi em andaimes… Foi um aprendizado intenso, mas necessário para conquistar o respeito e a confiança da equipe.”
Resiliência e reinvenção
Com o tempo, Bruna decidiu empreender no setor elétrico, abrindo sua própria empresa de manutenção e obras. Gerenciou contratos, liderou equipes e vivenciou os desafios de ser gestora em um mercado competitivo. A pandemia, no entanto, trouxe dificuldades que culminaram no encerramento da empresa.
“Foi um período muito difícil, de recomeço. Eu orava pedindo um sinal, um novo caminho. E ele veio.”
O novo capítulo surgiu com a oportunidade de atuar como operadora de sistemas. Uma função que exige atenção constante, tomada de decisão rápida e profundo conhecimento técnico. Pouco tempo depois, Bruna enfrentaria um dos períodos mais desafiadores da história recente do setor, marcado por eventos climáticos extremos e situações de emergência que colocaram à prova sua capacidade técnica e emocional.
Entre o sistema e o lar
A rotina de turnos e plantões é uma realidade constante para quem atua na operação em tempo real. Para Bruna, isso significa equilibrar o trabalho com o papel de mãe e mulher. “A escala não espera. Trabalhar à noite, em feriados ou fins de semana é parte da rotina. E isso exige abrir mão de momentos com a família.”
Ainda assim, ela segue firme — muitas vezes exausta, mas determinada. “A mão que envia comandos no sistema é a mesma que segura o filho, prepara o lanche e organiza a casa. É um ciclo sem pausa, mas cheio de propósito.”
Inspirar para transformar
Hoje, Bruna Arantes celebra cada conquista como resultado de uma trajetória marcada por esforço, fé e superação. Sua história representa tantas outras mulheres que, como ela, desafiam padrões, conquistam espaços e contribuem diariamente para manter o sistema elétrico funcionando.
“Cada mulher que atua nesse setor e ainda encontra tempo para cuidar da família prova que o impossível é só uma questão de opinião.”
